A Ecopaper da Amazônia, uma das únicas indústrias com ciclo completo de reciclagem de papel na Região Norte, vive um momento de retomada que alia tecnologia, sustentabilidade e transformação social. Com sede no bairro Santa Etelvina, em Manaus, a empresa retornou às atividades no fim de 2023 com foco em ampliar a reciclagem de resíduos de papel e consolidar sua presença no mercado regional e fora dele.
Com mais de 30 anos de história, a marca passou por uma reestruturação profunda. A antiga Bipacell, que segue responsável pela produção das bobinas de papel, agora atua sob a marca comercial Ecopaper, que também realiza a conversão dos produtos finais. Essa integração permite um controle total da cadeia produtiva, desde a origem da matéria-prima — composta 100% por papel reciclado — até a entrega ao consumidor final.
Segundo o diretor-executivo Durval Braga Neto, o diferencial da Ecopaper da Amazônia está na capacidade de produzir papel sem recorrer à celulose virgem, contribuindo diretamente para a preservação ambiental. “A sustentabilidade é a mola propulsora do nosso negócio. Não derrubamos nenhuma árvore e damos novo destino ao que seria lixo. Para além do compromisso ambiental que todos deveriam ter, para nós, isso se tornou um diferencial competitivo: retiramos o resíduo, transformamos em papel de qualidade e devolvemos para as mesmas empresas que doaram, agora num produto acessível e pronto para uso”, explica.
A fábrica reaproveita entre 600 e 1000 toneladas de papel por mês — material que, sem essa cadeia de reaproveitamento, acabaria em lixões e aterros da cidade. Boa parte dos resíduos processados vêm da própria burocracia: papéis administrativos, livros escolares fora de uso, documentos oficiais e excedentes de gráficas. Esse material é coletado junto a repartições públicas, empresas do Polo Industrial de Manaus e cooperativas de catadores.

Para o gerente industrial Maurício Maciel, a retomada representa um novo ciclo. “Estamos resgatando todo o pessoal das cooperativas para nos fornecer matéria-prima. Esse trabalho vem fortalecendo a cadeia local e já conseguimos chegar a 120 toneladas de reaproveitamento por mês. Cada tonelada é papel que deixamos de ver no lixo e transformamos em produto útil. Isso mostra que a reestruturação não é só industrial, mas também social e ambiental”, afirma.
Ecopaper da Amazônia e aposta no ESG
Além da sustentabilidade ambiental, a Ecopaper da Amazônia aposta em práticas sólidas de ESG com impacto direto na comunidade. Cerca de 90% dos funcionários da fábrica — que já opera com três turnos — são moradores do entorno. A empresa iniciou projetos de capacitação profissional, como treinamentos em Excel e formação de lideranças, buscando elevar o nível educacional e técnico dos colaboradores. A ideia é transformar o ambiente fabril em um espaço de desenvolvimento humano e estabilidade social.
A reestruturação da marca incluiu ainda o redesenho das embalagens e identidade visual. Produtos populares como o papel higiênico Selos — muito consumido no interior do Estado — continuam sendo o carro-chefe da operação. Mas a Ecopaper agora mira mais alto: está desenvolvendo uma nova linha de papel reciclado, mais branco e macio, apelidado internamente de “supra-sumo do reciclado”, para testar em mercados fora do eixo tradicional.
Essa nova frente de atuação já começa a dar resultados. Desde o retorno às operações, o faturamento tem crescido mês a mês, e a empresa já distribui produtos em Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO). O plano é expandir de forma descentralizada, com pequenos polos de conversão em outros estados da Amazônia Legal, garantindo logística mais eficiente e geração de empregos regionais.
Na contramão do desperdício e da dependência de insumos florestais, a Ecopaper da Amazônia constrói um modelo de negócio circular, com impacto direto em três frentes: o meio ambiente, a economia local e a dignidade dos trabalhadores.